
Aurora Colheita Tardia 2005 - Semillon / Malvasia Bianca. Aroma forte. De frutas maduras mais do que talvez deveriam. Doce. Muito doce. Aroma forte de flores. Tentei tomar sozinho. Apenas degustar. Enjoativo. Mas ao seguir a regra recomendada de harmonização para os chamados vinhos de sobremesa, ficou simplesmente delicioso com uma torta mousse de chocolate meio amargo. Missão difícil encontrar uma sobremesa menos doce do que o vinho quando não se sabe ainda a doçura do vinho! (risos). Mas eu recomendo! Ótima forma de começar para aqueles que ainda chamam os bons vinhos de "secos" e dizem que "travam". Amiga Mile, esse eu vou te dar de presente! ;)
A motivação veio de uma reportagem de uma revista especializada de uma loja, Maison des Caves que ganhei na minha última ida a São Paulo. Infelizmente a revista é dada apenas a clientes que vão até a loja para alguma aquisição. Mas me darei ao trabalho de reproduzir aqui! ;)
Doçura Natural
As nuances e o requinte dos vinhos que dão um gosto todo especial às sobremesas
Texto Nilu Libert Revista AD Caves Magazine - Setembro / Outubro / Novembro 2006 - Ano 02 - Nº 5
Requinte indispensável na mesa dos gourmets, os vinhos de sobremesa ocupam um lugar especial nas adegas (e no coração) de seus admiradores. Eles são feitos a partir de uvas específicas, na grande maioria branca e do tipo aromático, que favorecem uma maior concentração de açúcar natural. Alguns exemplos? Moscatel, Gerwstraminer e Malvasia. Outras uvas utilizadas são a Semillon (em Bordeaux), a Furmint (na Hungria), a Riesling (na Alemanha) e a Chardonnay (Austrália, Américas e África do Sul). No entanto, existem alguns elaborados com uvas vermelhas, como o Sagratino di Montefalco e o Recioto della Valpolicella, um régio presente ao paladar. São vários os métodos de produção dos vinhos de sobremesa e, entre eles, está a colheita tardia (late harvest), que consiste em deixar as uvas na parreira durante várias semanas após a data ideal da colheita para ocasionar sua desidratação e conseqüente aumento da concentração do açúcar. Já independente da vontade do homem, em algumas regiões da Europa (principalmente na França, na Itália e na Hungria), as uvas costumam ser atacadas, ao final da maturação, pelo fungo Botrytis Cinerea, que faz perfurações finíssimas em suas cascas favorecendo o aumento da concentração do açúcar natural. É impossível evitar o ataque desse fungo, considerado uma dádiva da natureza para alguns vinicultores. Os vinhos produzidos com essas uvas são chamados de botritizados e se classificam entre os mais raros, caros e deliciosos do mundo. Neste grupo estão os Sauternes de Bordeaux e os Tokaj Húngaros. Aqui no Brasil, o Aurora Colheita Tardia é um dos raros vinhos de sobremesa nacionais, com alto teor natural de açúcar. Porém o mais importante, para os experts, é o resultado do balanceamento equilibrado entre o teor de acidez e do açúcar da fruta.
Néctar Dourado
Localizado em Sauternes, região que faz parte de Bordeaux, a vinícola Châteu d'Yquem está entre as mais famosas da França. Em 1593, quando Jacques de Sauvage adquiriu a Casa de Yquem em troca de algumas de suas outras propriedades, certamente não imaginava que tantos séculos depois o Sauternes Châteu d'Yquem seria grife de um dos vinhos de sobremesa mais disputados e caros do mundo, o primeiro entre os primeiros de Bordeaux. A maior parte das uvas do Châteu d'Yquem são da variedade Semillon e, ali, propensas à ação do fungo Botrytis Cinerea, aquele mesmo que propicia a concentração do açúcar na fruta e a transforma em matéria prima para o prazer de enófilos de todo o planeta. Para a grande maioria, o melhor Sauternes é o Châteu d'Yquem, atualmente de propriedade da LVMH, gigante do mercado de bebidas, proprietária também do Champagne Moët & Chandon, do Veuve Clicquot, da Crug, do Cognac Hennesy e dos vinhos Cheval Blanc francês e do Terrazas e Cheval los Andes na Argentina. O Châteu d'Yquem é o único "Premier Grand Cru Classé" reconhecido desde época de Napoleão III. Sua produção é bastante inferior á de um Bordeaux. Enquanto se consegue 40 hectolitros por hectare de videiras em Bordeaux, o Sauternes a produção mal passa de sete hectolitros por hectare. Outro fator que contribui para seus altos custos são as diversas colheitas, de seis a sete, que são feitas para colher apenas uvas contaminadas, próprias para a produção. Um Sauternes deve ser servido fresco e não gelado, geralmente como parceiro de sobremesas. No entanto, o Marques Lur Saluce, antigo proprietário do Châteu d'Yquem, discordava e dizia que seu vinho era recomendado para acompanhar pratos como o salmão e o foie gras. De um jeito ou de outro, é um privilégio que deve ser reverenciado.
Made in Italy
O experiente Chef e enófilo Sauro Scarabotta incluiu, na requintada carta do seu restaurante Friccó di Frango, uma variedade surpreendente de vinhos de sobremesa italianos ao lado dos grandes clássicos internacionais. Grande conhecedor do assunto, ele explica que a diversidade do solo e do clima na Itália é responsável por sabores inusitados e pela presença de aromas únicos em algumas versões desses vinhos de sobremesa. Um bom exemplo é o Moscato Passit d'Arancio, que tem perfume natural de flores de laranjeira. Ou o Moscato Rosa, que parece ter sido perfumado com essa flor.
O Vin Santo
Capítulo a parte entre os vinhos de sobremesa italianos, o Vin Santo é o mais famoso em todo o planeta. Típico da região Toscana, sua origem é atribuída ao fato de que antigamente não se podia da início à colheita das uvas sem que as parreiras tivessem tido a benção do padre da região. Como o único padre do vilarejo estava ausente e demorou vários dias para voltar, o proprietário das terras resolveu não recolher as uvas. Quando o padre voltou, as uvas pareciam estar estragadas, contaminadas por fungos. Mesmo assim, o dono ordenou que fossem abençoadas, como mandava a tradição. Então, o padre deu a benção, o vinho foi feito e, para grande surpresa, resultou em uma explosão de doçura e sabor. O padre (que não era nada bobo) aproveitou a situação para dizer que só mesmo um santo poderia provocar aquele resultado. E assim nasceu o vinho Santo. Onde termina a verdade e começa a lenda? Parece que isso importa pouco... Atualmente os Vin Santo D.O.C (feitos apenas em safras excelentes) são como ouro líquido, uma preciosidade engarrafada para momentos especiais. Eles tem maior durabilidade e trazem o ano da safra impresso nos rótulos. Para acompanhá-los, a sugestão clássica são os contucci, biscoitos de amêndoas que devem ser molhados no vinho. Com esta parceria desenhada no céu, você recebe o passaporte para o paraíso na terra. Mas a maioria prefere curtir unicamente o vinho, sem interferências que possam confundir o paladar.
Harmonizações
Combinações inusitadas podem surpreender agradavelmente o paladar, contrapondo a doçura dos vinhos de sobremesa com a personalidade dos queijos azuis (blue cheese) ou mesmo com o sabor de foie gras, que faz um casamento perfeito com os Sauternes. A harmonização destes vinhos com sobremesas também não é tarefa fácil. A regra geral é que o vinho deve ser sempre mais doce que a sobremesa. (...)
Enquanto meu bolso não permite um Châteu d'Yquem, ficamos com o Aurora Colheita Tardia mesmo!
Preço na ocasião: R$ 16,38
Temperatura de Degustação: de 6º a 8ºC
Maiores Informações: Vinícola Aurora
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